O CULTO À PERSONALIDADE


O culto à personalidade é uma estratégia de propaganda política baseada na exaltação das virtudes - reais e/ou supostas - do governante, bem como da divulgação positivista de sua figura. Esta prática tão exagerada no nosso país, considerado democrático, culmina no "culto do indivíduo". Um culto da personalidade é semelhante a divinização, exceto que ele é criado especificamente para os líderes políticos. As suas manifestações incluem cartazes gigantescas com a imagem do líder, constante bajulação do mesmo por parte de meios de comunicação e muitas vezes perseguição dos que não concordam com ele. Pode-se, portanto, dizer que é o mesmo que escovar os sapatos do chefe. A linguagem barata designa de lamber botas do patrão.

É inegável que haja em nossa volta pessoas apaixonadas em cultuar chefes e instituições. A busca de reconhecimento político é uma das mais poderosas alavancas do culto da personalidade. Aqueles que pretendem assumir cargos mais elevados, adquirir recursos de poder e os que mantêm o seu estatuto começam a reverenciar o chefe com títulos e palavras doces a vários níveis, não importa onde, quando e porquê. Repetem várias vezes as suas palavras e gestos, parece um papagaio. Até caem na malha de atribuir qualidades divinas a um fantoche de merda. Na sua maioria, os aparelhos de Estado e políticos são as vítimas naturais do reverencialismo, do culto aos chefes, às estruturas máximas, aos grandes líderes.

O medo de perder os bens materiais que conferem poder é uma outra pedra angular do culto à personalidade. Com efeito, quanto mais dependemos desses bens para uma vida agradável, mais tendência temos para, das mais variadas formas, prestarmos sujeição (vassalagem) ao líder. 

Por exemplo os momentos eleitorais e de renovação das funções são o ponto alto de cultuar os dirigentes para ser bem visto e ser promovido. Ademais, seres humanos como nós são idolatrados como se deuses fossem, são ritualmente colocados em lugares sagrados, em igrejas e mesquitas, reverenciados como se de indivíduos supra-humanas fossem, cumprimos cega - e, quantas vezes, alegremente - as suas ordens, reproduzimos a pente fino os seus dizeres. A título de exemplo: “nós venceremos a pobreza absoluta”.

Os seus escritórios, os seus carros, os seus ornamentos: tudo isso é matéria de culto ferveroso e permanente. Um mercedez último modelo, por exemplo, torna-se um altar em nossas almas sequiosas; o seu utente, um pequeno deus adorado. 

Na ótica do sociólogo Carlos Serra “em múltiplas oportunidades da nossa vida diária, seja no contacto físico, seja através dos órgãos de informação, estamos confrontados com o incessante culto sacro-chefal. Por hipótese, quanto mais fraco é o coeficiente de crítica social, mais forte e indiscutível é esse culto, mais reverencial, mais idolatrante é a sociedade”. 

O que faremos para deixar de divinizar o chefe? Vença o medo! Nenhum culto ao chefe lhe prestigia. Lembre-se que cada vez mais que você aplaude os filhos do chefe estudam nas melhores universidades do exterior e os teus filhos continuam analfabetos e dominados por um regime de educação para mosquitos. Mais não disse!

Por Kant de Voronha

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A fome tira sossego as crianças no distrito de Angoche província de Nampula

Comissão Nacional de preparação da IV Assembleia de Pastoral reune-se pela primeira vez

Instituto Médio Politécnico Messalo preparado para aulas presenciais